2006/11/25

 

TRADIÇÕES V

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O N A T A L
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OOntem deitei-me cedo. Estes dias dum final de Outono que se aproxima, mais parecem de pleno inverno o que chama ao aconchego dos cobertores. O sono não chegava e, sentada com uma almofada por encosto os dedos deslizaram pelo teclado do meu portátil deixando em escrita as saudades que vão ficando, dos Natais que se passavam em ambiente familiar, enquanto criança. O Natal é no mundo cristão, a comemoração do nascimento de Jesus Cristo que, e não obstante alguns historiadores e experts indiquem outra data, terá nascido, no dia 25 de Dezembro. As histórias à volta do Natal são imensas. O facto de se contarem às criancinhas, levou a que, e como quem conta um conto acrescenta um ponto, se criassem imensas histórias de natal e algumas tenham uma versão diferente consoante o contador, ou a região em que a mesma está inserida. Na nossa região, e à parte as histórias, o Natal é a festa da família e da amizade. Das várias tradições que se associam à festa do nascimento do Menino Jesus e à semelhança doutras regiões, contam-se: a árvore de Natal, o Presépio, as prendas e o Pai Natal, a consoada, a missa do galo, os cartões de Natal, os Reis Magos, as filhoses, as rabanadas, as músicas e cânticos próprios desta época.
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Olhei para o Céu,
Estava estrelado,
Vi o Deus Menino,
Em palhas deitado. O
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O menino está dormindo,
nos braços da Virgem pura.
Os anjos lhe estão cantando:
"hossana lá nas alturas . O
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A evolução dos tempos, da tecnologia e do conhecimento, levaram a que algumas destas tradições se estejam a perder. Serve de exemplo a dos cartões de natal, hoje a serem substituídos pelas mensagens electrónicas e emails. Quero aqui recordar o que era o Natal dos meus pais e avós, pelas informações colhidas dos mesmos e pelas experiências vividas enquanto criança. Assim: Passada que foi a época do São Martinho e porque,”dos Santos ao Natal é um saltinho de pardal”, já cheira a Natal e começa-se por enviar aos familiares e amigos os tradicionais postais alusivos à época, e que se enviam por iniciativa ou retribuição, desejando um feliz Natal e próspero Ano Novo. Aproxima-se o Natal. Faltam alguns dias e no seio da família começa-se a preparar o presépio e a árvore de Natal. Os mais novos regozijam com a parte dos enfeites. São os sinos, os flocos de neve e a estrelinha na árvore, e a sagrada família, os animais e os Reis Magos no presépio. É dia 24 à tarde, e as mulheres preparam já a consoada que irá reunir a família. Os mais novos brincam e anseiam mais pela manhã do dia seguinte, p’rá descoberta das prendas. O prato principal é o bacalhau com hortaliça. Os doces são variados e a filhós é rainha da mesa nesta altura. Terminada a consoada a família diverte-se com jogos, anedotas e conversas, até que se aproxima a meia noite, hora da missa do galo. As crianças deixam o sapato na lareira e recolhem ao leito adormecendo com dificuldade, ansiosas que estão por saber da prenda que o Menino Jesus lhes deixará no sapatinho. Os mais velhos dirigem-se à igreja onde é rezada a missa do galo e, pela primeira vez, é beijado o Menino Jesus. Dia 25, os primeiros a acordar são os mais novos que em correria se dirigem à lareira, na ânsia de que o Menino Jesus lhes tenha trazido a tão desejada prenda . E o dia continua com brincadeiras e diabruras, próprias da idade e quantas vezes com alguma sombra de tristeza porque a prenda não satisfez os seus desejos. O almoço aproxima-se e, à mesa da consoada, donde nada fora retirado pois segundo a tradição os anjos naquela noite servem-se da comida que fica da consoada, junta-se o tradicional perú recheado. Terminado o almoço e a festa de Natal, cada um regressa às suas casas na esperança de que, p’ró ano, noutra casa já combinada, nos reunamos novamente em fraterna e sã amizade. A época Natalícia não termina no entanto, sem que seja chegado o dia 6 de Janeiro, dia de Reis.
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O Os três Reis do Oriente,
O Vieram ter a Belém.
O Visitar o Deus Menino,
O Que nasceu p’ra nosso bem.
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O Comemora-se neste dia a chegada dos Reis Magos, Baltazar, Belchior e Gaspar junto do Menino Jesus que presentearam com ouro, incenso e mirra. Na noite de Reis, passagem do dia 5 para o dia 6, é tradição, jovens e mais velhos, constituírem-se em grupos que, mais ou menos bem ensaiados, vão porta a porta desejar as boas festas e o bom ano novo, recém chegado, com o tradicional “cantar dos reis”.
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O Aqui tens os Reis à porta ,
Boas festas, vimos dar,
Aos Srs. peço licença,
Para nos deixar cantar. O
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OLogo que eu aqui cheguei,
O Logo pus o pé na escada,
O Logo meu coração disse,
O Aqui mora gente honrada. OO
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O Há tradições que vêm sendo alteradas, como aconteceu com a tradição dos cartões. Hoje não é o Menino Jesus que trás os presentes e os deixa na chaminé mas o Pai Natal, representado por um dos elementos mais velhos, e as crianças sabem ser os pais e amigos os presenteadores. A consoada é hoje repleta de outras iguarias e felizmente é uma mesa mais rica, onde além das filhoses não falta o bolo-rei que, não obstante ser de origens gaulesas, aí se perdeu, e em Portugal se tornou num bolo de tradição natalícia. No essencial, e não obstante a vertente comercial extremamente forte associada, a tradição da consoada, do Natal do Menino Jesus e das boas festas com o cantar dos Reis, vão-se mantendo no espírito da união familiar, na professia do culto católico, em que a grande maioria das pessoas se revê.

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