2006/10/02

 

TRADIÇÕES I

O tempo está fresco e a chuva vai caindo. Tempo propício a que a família se sente á volta da mini destiladeira familiar, e na harmonia que nos distingue, façamos a tradicional cachaça e recordemos outros tempos, outras eras, tradições que se perderam e outras que nos querem tirar. Maçãs de Dª. Maria, que já foi sede de concelho e terra de gente mui nobre, com expoente máximo no nosso Rei D. Sancho I, é para os jovens maçanenses, interessante tema de pesquisa e procura de assuntos para trabalhos de escola. Dos poucos sítios de pesquisa, e a propósito da referência feita pelo Dr. José Hermano de Saraiva, quando do programa televisivo sobre Alvaiázere na sua referência á aguardente, lembramos aqui a obra Topografia Médica das Cinco Vilas e Arega. Esta obra, do Prof. Dr. A.A. da Costa Simões, data de 1860 e faz a dado ponto, referência á aguardente , sem nunca referir que a mesma daria força para as fainas agrícolas, como foi afirmado no programa televisivo. A páginas 112, o autor diz que, aliada a outras razões de ordem sanitária, poder ser o uso excessivo da aguardente uma das culpas (sem no entanto o confirmar) da desinteria sanguinilenta, existente na região. Neste capítulo, e como razão também provável para a doença, refere-se o consumo de vinho de má qualidade. Aqui, continuamos dia a dia a lutar para por fim á má qualidade! A má qualidade do vinho; a má qualidade pão; a má qualidade dos serviços dos correios; a má qualidade da água, a má qualidade das estradas e caminhos, a má qualidade dos esgotos (ou a falta deles)... e até, a má qualidade dos nossos governantes. Estamos em 1860 e os problemas de saúde pública já se colocavam. Já se referiam problemas de ordem sanitária. Porque se espera em Maçãs, para completar a rede de esgotos? Estamos no Séc. XXI e, salvas as devidas proporções, com problemas de há 150 anos. A páginas 95 e a respeito da alimentação geralmente má e quase sempre vegetal, diz-se a dada altura: «a aguardente também é d’um uso geral, principalmente na freguesia de Maçãs de Dª. Maria.» Hoje, e por todas a limitações sociais, a aguardente já não é d’um uso tão generalizado, funcionando apenas como digestivo para alguns. Para mal de todos, e essencialmente da preservação daquilo que é tradicional e verdadeiramente português, as autoridades estão a proibir o aproveitamento dos engaços que se fazia casa a casa, e em alambiques de família eram destilados (e ainda são até ver) dando o tão conhecido e apreciado bagaço. Querem proibir a produção artesanal. O proveito é das grandes destilarias. O consequente prejuízo, do povo anónimo de cujas tradições tanto fala quem delas se quer servir. Viva a tradição!. Preservemos o que é nosso, o que é bom e lutemos por manter ainda que com algum custo, pequenas tradições que nos possam dar alguma identidade. Continuemos a fazer a “cachaça”, no ritual que fazia da pequena produção (alguns litros por casa), uma grande festa… á volta do alambique.

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